A.C.Camargo gerencia medicamentos de alto custo com o propósito de entregar o benefício ao paciente por um valor justo

Acordos com farmacêuticas permitem à instituição validar a eficácia a partir de casos reais, apontar falhas em resultados, obter a devolução do valor investido e reembolsar as fontes pagadoras

A relação custo-benefício na medicina pode parecer puramente mercadológica, mas não é. Equilibrar os gastos com um tratamento eficaz para o paciente/beneficiário, pensando também na sustentabilidade do sistema, são desafios para toda a cadeia da saúde suplementar.

Quando o assunto é tratamento oncológico, a questão é ainda mais delicada. Para se ter uma ideia, os tratamentos de câncer são caros e correspondem a cerca de 10% dos sinistros das operadoras, segundo Rafael Ielpo, diretor Comercial e de Marketing do A.C.Camargo Cancer Center. “Sessenta por cento do custo da oncologia está relacionado aos medicamentos”.

Pensando nisso, o A.C.Camargo Cancer Center, referência em tratamentos oncológicos, iniciou acordos de compartilhamento de riscos com farmacêuticas. A ação integra o Escritório de Valor do A.C.Camargo.

Criado em julho de 2022, o Escritório é formado por cinco grandes áreas que cobrem toda a jornada do paciente, que começa desde a prevenção, passando pela navegação e seguimento, reabilitação e cuidados paliativos, até desfechos clínicos e funcionais, qualidade de vida e custo-efetividade. Também há o tumor boards, que são as reuniões multidisciplinares para os casos mais complexos.

“De fato, tentamos coordenar toda a jornada do paciente, melhorando a eficiência, reduzindo desperdícios com as outras áreas. A área de custo-efetividade olha para todos esses dados da jornada para entender como fazer melhor, ou seja, entregar o melhor valor para o paciente com o menor custo”, descreve a Dra. Aline Chibana, gerente do Escritório de Valor do A.C. Camargo.

Dr. Daniel Goldstein, oncologista e diretor do Centro de Economia da Saúde do Davidoff Center localizado em Israel, que esteve no Brasil a convite do A.C.Camargo, destaca que a discussão sobre a acessibilidade aos medicamentos para tratamentos do câncer é um desafio global a ser enfrentado e as iniciativas realizadas pelo A.C.Camargo podem reverberar em todo o mundo.

“Os custos são enormes e estão aumentando mas, felizmente, ao longo dos últimos anos, mais organizações se envolveram e começaram a pensar cada vez mais sobre isso, tentando lidar com essas questões para que possamos orientar políticas e princípios de maneira apropriada para os pacientes”, diz Dr. Goldstein.

Ele lembra que, atualmente, há novos medicamentos em oncologia, alguns com resultados surpreendentes, outros nem tanto. “Gosto de olhar para um medicamento e um ensaio clínico, e decidir o quanto ele é eficaz”.

Além da análise de custo-efetividade, também é possível fazer um sistema de conta aberta para um cuidado baseado em valor, em que se transfere o risco e a responsabilidade do pagador para o provedor. “Essa é uma das abordagens que o A.C.Camargo está começando. É uma abordagem mais econômica para tratar os pacientes. Há outras ações que podemos fazer junto a isso, como as intervenções médicas para diminuir custos, enquanto mantemos os resultados de saúde”.

“Tenho trabalhado em algumas dessas intervenções médicas nos últimos cinco ou seis anos, que chamamos de farmacoeconomia intervencionista. O método consiste em analisar o que podemos fazer para diminuir o custo, mas manter os mesmos resultados de saúde”, explica.

Para isso, segundo o médico israelense, são analisadas algumas estratégias. “Podemos usar a substituição terapêutica, já que, às vezes, há dois medicamentos que têm a mesma finalidade, mas um é muito mais barato do que o outro. Também podemos usar uma dosagem mais baixa, pois existem alguns medicamentos em que a dosagem é muito maior do que a realmente necessária. Podemos manter os mesmos resultados de saúde e, às vezes, reduzir os efeitos colaterais, a toxicidade do medicamento e também reduzir enormemente os gastos”, exemplifica.

Crédito das imagens: Renan Banos Rodeguer

Como funciona: reembolso para operadoras

Segundo a Dra. Rachel Riechelmann, líder da Oncologia Clínica e do Centro de Referência de Tumores Neuroendócrinos do A.C.Camargo, todos os tratamentos utilizados na oncologia têm como base estudos clínicos. “Quando usamos as medicações de estudos clínicos no mundo real, o resultado nem sempre é o mesmo. Geralmente, vemos uma eficácia inferior e, muita vezes, efeitos colaterais maiores, ou seja, o que usamos na prática, não reflete os mesmos benefícios do estudo clínico”, explica.

Ela afirma que não é incomum que as doses usadas na prática médica sejam menores do que aquelas utilizadas no estudo clínico.

“Muitas vezes, em estudos de terapia-alvo, que são as terapias de alto custo, nos primeiros testes com seres humanos vamos aumentando as doses para ver qual é a dose segura. As doses iniciais, menores do que as aprovadas, normalmente já são suficientes para ter um efeito inibidor do crescimento da célula tumoral”.

Com o acordo, caso o medicamento não tenha o efeito desejado, a farmacêutica reembolsa o A.C.Camargo com o número de caixas utilizadas pelo paciente, que reembolsa a operadora.

Estudos com dados reais

O everolimo é uma medicação oral, aprovada no Brasil e no mundo para câncer renal, câncer de mama e tumores neuroendócrinos. “Nos estudos clínicos, a toxicidade dessa medicação é relevante. Tem estomatite, diarreia e 7% de infecções. Lideramos um estudo na América Latina com dados da vida real, em que mostramos que, na prática, 20% dos pacientes desenvolviam infecções graves e, às vezes, até fatais; 7% eram infecções oportunistas; dois terços dos pacientes precisaram reduzir a dose de 10, que é a da bula, para 5”, explica a Dra. Rachel.

O A.C.Camargo realiza estudos randomizado para avaliar o impacto da redução das doses nos pacientes da instituição. “Se conseguirmos provar que 5 é tão eficaz quanto 10, mas muito menos tóxico, vamos mudar a prática oncológica no Brasil e no mundo!”.

Além disso, segundo ela, o preço do everolimo é linear: 5 custa metade de 10, então pode até ampliar o acesso para serviços, inclusive no Sistema Únido de Saúde (SUS), que hoje não tem a medicação.

“Os estudos que geram aprovação na bula geralmente têm um espaço de acompanhamento mais curto, em torno de um ano a dois anos. Aqui fizemos um acompanhamento de cinco anos. Precisamos de mais tempo para observar os danos colaterais. Acreditamos que dá para otimizar, mantendo a eficácia e reduzindo a toxicidade do lado médico, reduzindo o custo para todo o sistema e contribuindo para uma sustentabilidade que entendemos ser um problema mundial”, conclui a Dra. Rachel.

Escritório de Valor

O Escritório de Valor procura formas de garantir o acesso a medicamentos de alto custo, incluindo a indústria farmacêutica nas negociações. “O A.C.Camargo tem gerenciado os medicamentos de alto custo pensando em entregar o benefício ao paciente por um valor justo”, diz a Dra. Aline.

Atualmente, o A.C.Camargo possui contratos de compartilhamento de riscos com a Johnson & Johnson e com a Roche. “Isso só é possível porque temos dados. Graças às nossas taxas de sobrevida, no Observatório do Câncer, a Roche se sentiu confortável em firmar um acordo de compartilhamento de riscos conosco”.

A ideia do A.C.Camargo é criar uma linha de pesquisas para começar a entender a economia na oncologia de maneira mais objetiva.

O custo-efetividade de tratamentos oncológicos, a equidade no acesso a tratamentos e a importância de dados na tomada de decisões médicas foram discutidos no III Encontro A.C.Camargo – Gestão da Sinistralidade e Valor em Oncologia. O evento foi realizado na Unidade Itaim do Cancer Center, em São Paulo, no dia 27 de março.

Segundo a Dra. Aline, no II Encontro, realizado em 2024, ficou selado o compromisso de que haveria devolução do valor do medicamento para o sistema de saúde. Houve duas falhas em medicamentos, e as operadoras terão a devolução. “Queremos contribuir com a sustentabilidade”.

“O A.C.Camargo faz movimentos no sentido de ter um alinhamento de propósitos mais objetivos com as operadoras, um entendimento mais claro das necessidades – o que elas precisam, o que conseguimos entregar para atendê-las, sempre pensando em um tratamento de qualidade e, obviamente, com o custo-efetividade como principal norteador”, destacou Rafael Ielpo, diretor Comercial e de Marketing do A.C.Camargo.

A instituição tem como prerrogativa ter protagonismo nas iniciativas reais que tem feito para buscar custo-efetividade e sustentabilidade. “A ideia desses encontros é trazer exemplos reais do que temos feito dentro da instituição. A vinda do Daniel Goldstein, oncologista e diretor do Centro de Economia da Saúde do Davidoff Center, tem esse viés de entendermos a avaliação socioeconômica, uma linha de pesquisa em economia da saúde para entendermos incorporações, manutenções e, eventualmente, até desincorporações de medicamentos ou tecnologias que não trazem os resultados que prometem, muitas vezes a custos muito elevados”, conclui Ielpo.

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